Frente a Frente com Ernesto Queiroz e José Pires Ferreira (Zuzu Pires) - por José Carneiro


Ernesto Queiroz - Zuzu Pires

José Carneiro (In memorian)
Recife-PE
Outubro/2012

Com o fim da 2ª. Guerra Mundial em 1945 veio a redemocratização do país, com eleições para Constituinte de 1946, tendo como candidatos a Presidente da República o Marechal Eurico Gaspar Dutra pelo Partido Social Democrático (PSD) e o Brigadeiro Eduardo Gomes pela União Democrática Nacional (UDN).

Em Custódia, a partir de então, passaram a figurar como chefes políticos Ernesto Queiroz pela UDN e Zuzu Pires pelo PSD, numa luta renhida e constante em busca do poder. A política partidária era uma verdadeira guerra. As famílias se dividiram e boa parte dos seus membros sequer se cumprimentava. Havia completa desarmonia social, que se refletia em todos os movimentos comunitários. Foi um tempo de incerteza, incompreensão e violência.

Ernesto Queiroz e Zuzu Pires, dois extremos, mas homens de bem e pessoas exemplares. Ou dois homens semelhantes mas desiguais. Ou duas pessoas que caminharam lado a lado a vida inteira e nunca estiveram juntos em momento algum. Ou duas almas e um destino, aquelas estranhas e este misterioso. Ou dois pensamentos comuns e dois universos distintos, convivendo no mesmo lugar com a mesma gente mas trilhando caminhos opostos. Enfim, duas personalidades que marcaram época. Assim foram eles durante a longa jornada nas águas do Sabá e nas terras de Quitimbu.

Ernesto Queiroz era um homem alto, corpulento, alegre e risonho, calmo e tranquilo, de fala mansa e pausada, conversa agradável e de modos cavalheirescos. Do casamento com Dona Maria Josefina Gomes de Sá houve quatro filhos, Ernesto Queiroz Júnior (Ernestinho), José Elídio de Queiroz (Zito), Maria José (Zita) e Maria das Graças (Gracinha), todos eles com marcante atuação no seio da sociedade, notadamente Ernestinho, que se sobressaia como orador e escritor. Ernesto Queiroz era um líder a toda prova. Sabia fazer amigos e conservar as amizades. Sua casa era a casa de todos, de portas abertas, sempre estava cheia de gente. 

Uma de suas características era apadrinhar crianças, contando com um universo de compadres, que faziam a diferença na hora da medição de forças partidárias . A política partidária corria nas suas veias. Nela nasceu e viveu com toda intensidade. Era popular e sabia fazer política, com o povo sempre ao seu lado. Foi Prefeito do Município por várias legislaturas. Quando a lei eleitoral impedia que fosse candidato, apresentava um correlegionário de sua inteira confiança e que não tivesse apetite político, um pau mandado como se dizia, e permanecia mandando nos destinos da municipalidade. 

Desta forma dominou o município politicamente por cerca de cinquenta anos ininterruptos, numa oligarquia sem precedente na história de Custódia. Todavia, nunca esteve de cima no âmbito estadual, por que a UDN (União Democrática Nacional), partido de oposição ao governo, do qual fazia parte, não conseguia vencer uma eleição no Estado, apesar das memoráveis campanhas, todas com perspectivas de vitória, tendo como líder o senhor de engenho João Cleofas de Oliveira, que morreu sem se conformar com as derrotas eleitorais. 

As más línguas comentavam na época que o partido contrário, o PSD (Partido Social Democrático), que tinha como líder Agamenon Magalhães, dispunha de mais de cinquenta mil títulos eleitorais falsos. Além disso, contava com o poderio do governo, com as classes econômicas do estado e, sobretudo, com a força prepotente da polícia.

Ernesto Queiroz foi um homem rico, mas a política lhe dava de um lado e tirava do outro. Tanto é assim que se desfez de sua propriedade rural Várzea Limpa e da Bolandeira da cidade para gastar na política. Nunca se pôs em dúvida sua honestidade na administração da coisa pública. Era tido como um cidadão de bem e de respeito, figurando como um dos capítulos mais importantes da história política de Custódia. Desfrutou a vida inteira de grande prestígio no seio da comunidade. Um líder simples e generoso, dando lugar a se dizer que se não apoiava, no mínimo, tolerava os desmandos dos seus correlegionários. Daí, como enxergam alguns, ter sido vítima de uma enorme injustiça, pagando um preço muito alto por uma dívida contraído por terceiros.

Ernesto Queiroz teve uma vida sóbria e morreu pobre. Assim é a vida, cheia de mistérios e incertezas, muitas vezes nos levando a não entender o efêmero e a duvidar da eternidade. 

Zuzu Pires era um homem alto, magro, rosto afilado, maneiroso, de pouca conversa, sisudo, sempre trajado de paletó e gravata, tinha ares aristocráticos. Casado com Dona Filomena Pires, havendo do casamento Teófilo, Antenor, Anísio e Maria do Carmo Pires. Comerciante do ramo de tecidos e considerado economicamente rico. Político, mas ao contrário do seu opositor Ernesto Queiroz não era nem líder nem popular. 

Na sua casa o povo não tinha vez e seus filhos, arredios, não faziam parte ativa da sociedade, com exceção de Anísio Pires que, além de médico conceituado, era um intelectual, de palestra fluente e agradável, se mostrava um homem de leituras, com amplos conhecimentos gerais, especialmente de história e geografia. 

Zuzu Pires, partidário do PSD (Partido Social Democrático), nunca ganhou uma eleição no âmbito municipal de Custódia. Em compensação nunca perdeu uma eleição na esfera estadual, razão pela qual sempre esteve de cima no Governo do Estado. Mas, por conta do seu pouco traquejo político, ou ausência de interesse social, pouco fez em favor da comunidade. Preocupava-se mais com o comando policial, cuidando de nomeação de delegados e o mais que dizia respeito às lides policiais. Mas, era um homem pacífico e probo, desconhecendo-se qualquer ato que venha desmerecer sua personalidade política e social.

A parte mais triste, mais dolorosa e de maior repercussão na história de Custódia foi a expulsão sumária das famílias Pires e Florêncio, que revoltou quase toda população da cidade, pois boa parte dos integrantes da facção responsável pelo ignóbil acontecimento dele não fez parte nem concordou.

Ernesto Queiroz e Zuzu Pires foram, sem a menor sombra de dúvida, os dois maiores políticos de Custódia de todos os tempos, figurando como o capítulo mais expressivo de nossa terra e sua gente.

No final de contas, Ernesto Queiroz e Zuzu Pires, hoje unidos pelos laços inquebrantáveis da eternidade, são ilustres personalidades de um tempo, merecendo o respeito silencioso dos custodienses de bem. 

Descansam na paz do Senhor. 


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