Matéria publicada no UOL em 2006
O promotor Diego Reis defende que réus de processos de crimes leves comprem o instrumento musical em vez de cumprir pena. A sanfona é usada para ensinar aos jovens a tocar forró.
Em vez de cumprir a pena, comprar uma sanfona. Essa é a inusitada proposta de pena alternativa do promotor público Diego Reis, que vem repercutindo positivamente e despertando as atenções para a Comarca de Custódia, Sertão Moxotó, a 340 quilômetros do Recife.
Sua iniciativa atinge pessoas que cometem crimes leves e a pena já foi aplicada pela Justiça em processos de dois réus. O juiz determina que o sentenciado compre o instrumento musical (que é caro) e extingue o processo. A sanfona é usada em aulas de música que ensinam os moradores da cidade a tocar o autêntico forro pé-de-serra.
O projeto é pioneiro e ganha maior importância porque a sanfona é usada em processo educacional voltado para menores em situação de risco.
Até agora a Comarca de Custódia recebeu três sanfonas, duas através das sentenças e uma doada pelo Ministério Público, que aplaude a iniciativa do promotor Diego Reis. Mesmo acumulando a Comarca de Betânia, ele encontra uma brecha na sua concorrida agenda para ensinar música gratuitamente aos meninos.
Os ‘alunos’ têm entre nove e 17 anos e já provaram que levam jeito para o negócio. Os garotos, que assistem às aulas há quase um ano, vêm participando de apresentações públicas. Na festa de São José (o padroeiro da cidade), que teve início neste fim de semana, foram uma das atrações. Além dos três sanfoneiros, mais dois jovens se incorporaram ao trio e formaram o quinteto Fuleiros do Forró.
CULTURA VIVA - Pelo fato de o promotor ser músico profissional, o projeto decolou fácil. E por que forró? Diego Reis explica: “Além de ser nossa cultura, estamos profissionalizando os jovens e ensinando a eles o autêntico forró pé-de-serra mostrando a diferença em relação ao estilizado”, justifica.
A idéia de aplicar esse tipo de pena surgiu na promotoria em acordo com o Conselho Tutelar. Além de Custódia ser a sua primeira comarca, o promotor tem certeza de que plantou uma semente muito boa no Sertão. “Esses três jovens daqui a pouco vão estar ensinando os outros e assim por diante. E o forró pé-de-serra, tocado no melhor estilo de Luiz Gonzaga, jamais desaparecerá na cidade”, comemora.
Diego é recifense, 30 anos, e começou a tocar sanfona ainda na adolescência. Criou o conjunto musical de forró Quenga de Coco (1994), mais tarde chamado Lampiões e Maria Bonita, que já tem dois CDs gravados e se prepara para gravar o terceiro. Esse último, com apoio da Associação do Ministério Público. O seu gosto pelo forró nasceu em casa, pois seu pai é de Campina Grande e a mãe, de Caruaru.
Diego representa o perfil do novo promotor de justiça, que é o de se integrar à comunidade, cooperando, participando, e não agindo isoladamente no campo da justiça.
(*) Netinho Sanfoneiro, é uma das crianças que surgiram desse Projeto, já tocou com diversos artista nordestinos de renome, atualmente integra a banda Boteco da Sanfona.
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