O senhor Esperidião de Sá, avó de Zita Queiroz em visita ao sítio do meu bisavô José Pereira, se deparou com um menino de quatorze e inteligente e analfabeto. Ele ficou comovido e fez uma proposta: “Compadre, esse menino está se perdendo aqui na roça, permita que ele vá para cidade para ser alfabetizado.”
O menino era Joaquim Pereira da Silva.
O mesmo aprendeu a ler e ficou deslumbrado com a literatura, formou uma biblioteca. Leu as obras (completas) de Machado de Assis, José de Alencar, Humberto de Campos, Victor Hugo, A.J. Cronin e outros. Lia dicionários, Atlas, enciclopédias, revistas, jornais, enfim tudo que estava a seu alcance. Tornou-se auto didata e por ter conseguido acumular tanto conhecimento ficou vaidoso. Gostava de mostrar que mesmo sem ter frequentado escola ele era um homem culto.
Após a morte do meu avô em 1971, dona Corina Pereira, sua esposa, distribuiu as coleções de livros. Meu tio Pedro Pereira Sobrinho ficou com algumas delas e eu fui agraciada com a de A.J, Cronin que está aqui na minha estante. Meu avô me ensinou os estados e suas respectivas capitais. Muito pequena ainda, dia de feira me sentava no balcão da farmácia e me arguia na frente de uma platéia de matutos. Era um sucesso.
Outra coisa que lembro é que ele enfatizava a necessidade da pessoa aprender prefixos gregos e latinos para compreender melhor as palavras. Recordo de sua voz dizendo: “Hidro é água, toda palavra que começa com hidro está ligada a água. Exemplos: Hidrografia, hidrofobia etc...”
Jussara Burgos
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