“Naquela noite, ceamos canja de rolinhas, pato assado, carne-de-sol com farofa, jerimum com leite, e, coroando tudo, uma umbuzada. Depois do jantar, sentados em espreguiçadeiras no copiar da “Carnaúba”, ficamos a conversar coisas vagas, enquanto as estrelas piscavam em cima, e lá longe, para os lados da Vila de Custódia, relâmpagos cortavam o céu. A terra e o fresco ar noturno cheiravam a mato e a chuva, e foi ali que eu, tendo como pretexto a caçada da tarde, puxei a conversa para esse assunto. Narrei todos os meus insucessos, exagerando e mesmo inventariado o que podia. Por fim, a modo de conclusão, lancei a frase que tinha preparado como centro do meu plano.”
O romance é inspirado em um episódio ocorrido no século XIX, no município sertanejo de São José do Belmonte, a 470 quilômetros do Recife, onde uma seita, em 1836, tentou fazer ressurgir o rei Dom Sebastião – transformado em lenda em Portugal depois de desaparecer na África (Batalha de Alcácer-Quibir): sob domínio espanhol, os portugueses sonhavam com a volta do rei que restituiria a nação tomada à força. O sentimento sebastianista ainda hoje é lembrado em Pernambuco, durante a Cavalgada da Pedra do Reino, por manifestação popular que acontece anualmente no local onde inocentes foram sacrificados pela volta do rei.
Suassuna iniciou o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, seu nome completo, em 1958 para concluí-lo somente uma década depois, quando o autor percebeu o que o levou a escrever o romance: a morte do pai, quando tinha apenas três anos de idade – tragédia pessoal presente na literatura de Suassuna, e a redenção do seu “rei” – uma reação contra o conceito vigente na época, segundo o qual as forças rurais eram o obscurantismo (o mal) e o urbano o progresso (o bem).
A história, baseada na cultura popular nordestina e inspirada na literatura de cordel, nos repentes e nas emboladas, é dedicada ao pai do autor e a mais doze “cavaleiros”, entre eles Euclides da Cunha, Antônio Conselheiro e José Lins do Rego.
Material enviado por: José Soares de Melo
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Rozineide Moura da Silva Oliveira | neide.moura@hotmail.com