Morei dos 02 aos 07 anos de idade, lá pelos anos 57 a 62, numa casa que ocupava um pequeno quarteirão situada em frente à Central, hoje Av. Inocêncio Lima (chamávamos Central a estrada que ligava o interior ao Recife e que passava do lado direito da nossa cidade ou seja a BR 232 e que só a partir de mais ou menos 69/70 passou a ser do outro lado). Do lado direito da casa havia um terreno baldio e a próxima construção era a Coletoria Estadual, prédio que ainda hoje existe.
Do lado esquerdo era a Travessa Heleno Aleixo de cujos moradores e brincadeiras lembro com muito carinho. Posso até citá-los, na ordem das casas: Sr. Antonio do Posto e D. Anunciada, um outro casal que não recordo os nomes, mas que tinham um filho chamado Sila que era amigo dos meus irmãos, Zé Belarmino e Alice(eram recém casados), depois a Marcenaria de Pio, onde se fabricava belos móveis estilo chipandelle, a casa de Pio e Odete com sua prole – Fátima, Flavia, Fernando….(mesmo com pouca idade gostava de ajudá-la na hora do banho e comida dos meninos), Sr.Levino e D.Julieta (gente da melhor qualidade) sempre chegando a noite com seu caminhão carregado de dormentes.
Depois vinha a casa de D. Quitéria – (era uma casa com muita gente e costumavam chamá-los de paraibanos), Sr. Cícero Cocão, também marceneiro, evangélico (crente) e que tinha um filha chamada Berenice, Valdomiro e Neta com seus filhos pequenos Socorro, Vânia…, Sr. Manoel Gonçalo e D. Maria com seu filho Luiz (este amigo foi-se com a Queiroz Galvão e nunca voltou a sua terra), D. Caboclinha e sua filha Célia, que já era um pouco mais velha do que nós, mas mesmo assim participava de nossas brincadeiras (Eu ficava horas admirando D. Caboclinha engomar ternos de linho).
Voltando neste mesmo quarteirão, do lado de baixo da travessa Heleno Aleixo, esquina com o açougue público (hoje o Prédio da Prefeitura) ficava um pequeno comércio e residência do Sr. João de Virtuosa e D. Anália pais de Nazaré, Bezinha, Zefinha(de Bidó) e Laudicéia. Do mesmo lado tinha ainda a casa de Fátima (cujo pai era de Arcoverde e trabalhava na construção do açude do Dnocs), havia também um prédio velho, acho que de taipas, onde funcionava a marcenaria do Sr. Cícero, onde também morava e trabalhava Joãozinho (um deficiente que tocava violão, guitarra e se não me engano também as produzia e que permaneceu em Custódia até os anos 70), existiam ainda outras pequenas construções até chegar a casa colada aos fundos da nossa. Lá residiam Manoel Bidó e Dona Júlia com seus dois filhos Antonio e Zé. Era lá que em tantas tardes de domingo, com meu irmão Feitosa, ajudava “ D. Jula” a preparar os bolinhos de milho que ela vendia na segunda – dia da feira. Tosa ajudava ela a “relar” o milho (moer na máquina), “cessar” (peneirar) e depois era comigo: ela ia juntando os ingredientes e “temperando”, como ela dizia, e eu mexendo, mexendo.
Uma vez por outra escapando um dedinho para provar se estava mesmo doce. Terminada a tarefa ela acendia o seu cachimbo, e de cócoras ia soltando as suas baforadas e aí era hora de nos mandar embora: “vão pra casa, Bidó já vai chegar e vem da rua bebo, bebo”. Não demorava muito para ouvirmos os gritos e brigas provocadas por sua bebedeira. Na travessa Heleno Aleixo só havia construções até a esquina com a Dr. Fraga Rocha. A ladeira era deserta e era por lá que íamos e voltávamos do Grupo Escolar (que hoje todos chamam de General). Às vezes, escapávamos pra dar uma olhada no “bueiro” que atravessava a Fraga Rocha, a Luiz Epaminondas e saía próximo a Coletoria.
Na minha visão de criança aquilo era um tubo enoorrrme. Recordo também que na rua, sem calçamento, tinha areia e em determinada época do ano, apareciam uns besouros, que meus irmãos com os demais amigos da rua prendiam em caixas de fósforos, depois ficávamos ouvindo os zumbidos dos pobres besouros. Como minha irmã já estudava interna em Recife eu acompanhava todas as brincadeiras dos meus irmãos (Ferdinando e Feitosa) desde raspar os tijolos do cacimbão que havia em nossa casa, o que significava a “nossa fábrica de colorau”, até correr pela rua com um pano na mão derrubando tanajuras. Meu anjo da guarda era forte, quantas vezes não me debrucei naquele cacimbão para ver as enormes jias que ficavam presas as paredes do poço.
No nosso quintal, cheio de papoulas gorduchas que chamavam de “rosa-graxa”, com as quais escrevíamos no cimento e que produziam muitas nódoas nas nossas roupas, mamãe também cultivava milho (em determinada época) e gergelim. Lembro que era uma festa para a meninada quando a colheita era feita, cortavam-se as plantas e eram carregadas para o outro lado da “Central”, que, pasmem!, só era roça. Do Posto Fiscal (que ficava mais ou menos em frente a Coletoria ) até a entrada do hospital não havia uma só casa. Quantas lembranças tenho desta rua, dos nossos vizinhos… Fecho os olhos e vejo a nossa casa com todos os seus cômodos, móveis, meu pai, minha mãe, Nenê, o cachorro Tupã, os cágados, a radiola SEMP, os discos de Luiz Gonzaga e Nelson Gonçalves (aprendia com Tadeu as músicas que ele gostava e ainda sei até hoje…), as aulas de Catecismo que freqüentávamos, as visitas que fazíamos com mamãe a casa de D. Alice Simões, as brincadeiras na casa de Ceiça e Socorro (filhas do Coletor Sr. Zé Mariano), os passeios na casa de D. Mundinha (mãe de Jorge, Péricles, Socorro).
Ahhh! Quanta lembrança! Depois a mudança para Betânia/Triunfo e quando retornamos em 1967, a casa já havia sido vendida. Hoje dela quase nada mais existe, todo o quintal foi loteado e construído e nem consigo ver mais se há algo dela por trás das inúmeras lojinhas. Em tantas outras casas e ruas residi nesta cidade,encontrei amigos, vizinhos, juntos vivenciamos outras épocas/fases de nossa vida….., cada qual com sua devida importância. Hoje quando passo naquela rua não reconheço mais nada do que aqui descrevi, mas se me sento no “Restaurante Pais e Filhos” penso logo: era aqui o portão de entrada da nossa casa.
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Jorge Remígio