Por
Vanise Rezende
07/06/2020
Vanise Rezende
07/06/2020
De uma apagada fotografia de quando eu era criança, posso inferir que eu era uma menina gorducha de olhos repuxados, lábios volumosos, bochechas notáveis e cabelos abundantes. Tudo o que recordo daquela época são histórias que me mãe me contara mais tarde. Reminiscências com toques da imaginação.
Um dia – eu tinha entre quatro a cinco anos – entrei na sala de costura da minha mãe e a encontrei fazendo um bonito vestido para Leny, minha irmã.
- E o meu? – perguntei-lhe enciumada.
- Depois eu vou fazer o seu e o de Laíse...
- Vai ficar bonito como o esse?
- Vai! Eu ainda vou comprar o tecido. Agora vá brincar, me deixe terminar aqui.
A promessa de Ester, minha mãe, não me convenceu. Saí direto para o cartório do meu pai. Eram os anos ’40, um tempo em que as crianças circulavam tranquilas na rua. As famílias se conheciam e cuidavam uns dos outros.
No cartório contei ao meu pai que queria comprar um vestido igual ao que mamãe estava fazendo para Leny.
Seu Né – muito ocupado no seu ofício – enfiou a mão no bolso e me deu um cruzado. Era uma bonita moeda de prata um pouco maior do que o real de hoje, e mais pesada.
Atravessei a rua e fui à loja de tecidos de Tio Zuzu. Na ponta dos pés depositei o cruzado no balcão, e lhe pedi um pano para meu vestido novo. Meu tio sorriu, deixando cair o pincenê, e fez um sinal para o balconista, que logo encontrou um retalho estampado. Meu tio me entregou o embrulho e o cruzado de volta, dizendo-me para voltar para casa.
Minha mãe só percebera que eu tinha saído quando lhe entreguei o pacote, com o tecido para o meu vestido. E fui brincar feliz, porque ia ficar bonito como o da minha irmã! Quanto ao cruzado, não faço ideia do seu destino.
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