[Livro] Mulheres que mudaram a história de Pernambuco - Sevy Gomes de Oliveira -


Natural do Município de Custódia – Sertão do Moxotó, ali vivi uma infância de muito espaço, muitos folguedos, contato com a natureza e aconchego familiar. Conclui o curso primário aos 11 anos no Grupo Escolar General Joaquim Inácio. No Colégio Santa Dorotéia, em Pesqueira, as irmãs, abnegadas e competentes, souberam lidar com as inquietações e as fantasias de normalistas adolescentes, tornando-se cidadãs profissionais.

Volto à minha terra como profissional titular, e, aos 17 anos, fui designada para uma escola multisseriada em Samambaia – zona rural do Município. A inexperiência, as limitações do material didático, a falta de energia elétrica e transporte motorizado só nos finais de semana, num primeiro impulso, me fizeram pensar em renunciar.

O exemplo de bravura e a persistência das crianças vindas de sítios e de fazendas, a pé ou a cavalo, sob o sol forte ou sob chuvas, o seu afeto e carinho me sensibilizaram, e assumi a escola e as atividades da comunidade durante cinco anos.

Essa experiência, que me legou uma bagagem pedagógica e de vida, me fez administrar sem dificuldades o Grupo Escola João Guilherme, em Tacaimbó, no Agreste, e passar com destaque no Concurso de Supervisor Escolar de Professores Leigos, promovido pela Secretária de Educação, em Recife. Tal supervisão se desenvolveu dentro de um programa com excelentes resultados nas escolas municipais do Interior e da Região Metropolitana, que lamentavelmente foi suspenso com o afastamento do governador Miguel Arraes.


Lotada na Divisão de Contabilidade da Secretaria de Educação, participei do curso intensivo Orçamento e Administração Financeira, da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. A programação de visitas e passeis da disciplina Relações Pública me fez comprovar ser o Rio de Janeiro a Cidade Maravilhosa, que não se repete, pela exuberância de sua natureza, pela construção do homem e pela sua vocação turística.

De volta a Recife, prestei vestibular para o Curso de Pedagogia, com especialização em Supervisão Escolar, na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Professora atuei em turmas com perfis sociais, econômicas e emocionais diferentes: alunos da zona rural e do Recife – Nova Descoberta, Colégio Israelita (particular) e Juizado de Menores. Foram vivências que exigiram uma dinâmica pedagógica diferenciada para lidar com um universo de atendimento tão distinto, ainda que criança.

Como técnica em assuntos educacionais, o tempo maior de serviço público, foi voltado para o Ensino Supletivo. Coordenei a equipe de Educação e Promoção Profissional do Adulto – DEPPA, sob a direção do Professor Josias de Albuquerque.

Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases n° 1.692, de 11 de agosto de 1972. O Ministério de Educação e Cultura- MEC, cria o Departamento de Ensino Supletivo – DSU Nacional e nos Estados.

Com a reforma da estrutura técnica e administrativa da Secretária de Educação e Cultura – SEC, em 1974, durante gestão de dois secretários – Coronel Costa Cavalcanti e Dr. José Jorge, assumi a Divisão de Ensino Supletivo – DSU.



Com essa função, participei dos encontros de diretores dos DSU´s, em Brasilia, congressos dos Secretários de Educação, em diferentes Estados, e reuniões técnicas com representantes de outros países, patrocinada pela OEA, OIT e Ministério do Governo Brasileiro. Em todos esses eventos, a pauta social incluía jantares, passeios e festas de congratulações que estreitavam círculo de relações pessoais e profissionais.

Com a pretensão de ampliar experiências, submeti-me ao concurso interno da SUDENE/MINTER. Selecionada, integrei a equipe da Divisão de Treinamento do Departamento de Recursos Humanos, assessorando as Secretarias do Trabalho nos Estados do Nordeste, com visitas mensais.

Para essa atuação, participei do curso de Pós-Graduação em Planejamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos, por meio de convênio celebrado entre a SUDENE e a Universidade Federal de Minas Gerais. Foi uma experiência de universidade aberta, com um curso a distância e em serviço, com avaliações prévias e posteriores para cada módulo de ensino, em Belo Horizonte, durante 18 meses.



Essas atividades de trabalho e de estudo foram entremeadas por viagens de férias em excursão a cidade brasileiras e passeios aos países da América do Sul e da Europa.

Revivi, com festas comemorativas, à altura das datas, as bodas de 50 e 60 anos dos meus pais, com a presença de quatro gerações, casamentos e conclusão de curso dos familiares.

Com a aposentadoria, voltam as imagens da “pátria da infância” – Custódia. Edito o primeiro livro autobiográfico, Caminhos do Afeto, com recursos próprios e lançamento em Brasília, Recife e Custódia, onde a renda foi revertida para a restauração da Matriz de São José, um belo templo construído pelo Padre Pedro Leão Verzeri, italiano, no ano de 1934.

Participei de reuniões do Centro de Estudo da História Municipal – CEHM, em Recife, organismo integrante da Agência CONDEPE/FIDEM, e centrada na afirmativa do poeta acadêmico Cyl Galindo de que “Um povo sem história é um povo se identidade… ”e de que o Brasil precisa coletar o registro histórico dos municípios e do seu povo”, decidi historiar o meu município.

O livro Custódia Relicário do Sertão tem a justificativa de homenagear os 80 anos de emancipação política do Município, divulgar de modo singular e específico a história e a força dessa gente sertaneja, despertar o senso de preservação nos jovens da sua própria história e propiciar o acervo particulares público de escolar, bibliotecas e instituições.

Do Sertão ao Litoral, passando pelo Agreste e pela Zona da Mata, vivenciei experiências com grupos diferenciados social e economicamente, cujo linguajar, costumes e anseios caracterizaram o regionalismo do meu Estado. Esses caminhos são minha história, onde fui me deixando e me construindo como individuo, como um ser coletivo e como profissional.

Texto extraído do livro “MULHERES que mudaram a história de Pernambuco” – IV Volume – Carlos Cavalcante.

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1 Comentários

Sevy, és um orgulho pra nossa querida Custódia.
Lhe conheço de londas datas, atraves dos relatos da minha mãe, Nilda Campos.
Ela sempre falou muito de vocês. Madrinha Bela, Padrinho Cícero Gomes, Severina, Ezilda, Totinha, Socorro... me recordo desses nomes.
Já estive na casa de seus pais em Recife, levada por minha tia Neide Campos, há muitos anos. Mas lembro bem de vocês. Mamãe sempre contou as peraltices que viveram na infância e adolescência. Ela sempre retratou tudo com muito carinho.
Quando vim à Custodia, venha nos visitar. Nossa casa está de portas abertas pra vocês.
Abraços meu e de sua grande amiga, Nilda.